Rota Afro
Do samba ao maracatu, do berimbau ao afoxé, das congadas ao bumba-meu-boi, da feijoada ao acarajé, do candomblé à umbanda, da originalidade literária de Machado de Assis e Carolina Maria de Jesus à filosofia e ao ativismo contemporâneo de Djamila Ribeiro, do humor de Mussum e Grande Otelo à musicalidade de Gilberto Gil, Elza Soares, Seu Jorge, Milton Nascimento, BaianaSystem e tantos outros ícones desse país ritmado. Seja na arte, gastronomia ou religião, a herança cultural africana pulsa onipresente em todos os cantos do Brasil.
Um dos locais que mais carregam a negritude em seu DNA é a Bahia. Não à toa, Salvador tem cerca de 2 mil terreiros e é a capital com a maior proporção de pessoas pretas do Brasil. Palco permanente para o batuque do Olodum, os desfiles do lê Aiyê, a ginga da capoeira e os romances de Jorge Amado, a cidade reúne diversos espaços e eventos que exaltam seu legado afrodiaspórico, desde o Pelourinho até o Curuzu.
Outros Estados do Nordeste também conclamam à consciência negra em roteiros que resgatam importantes recortes da nossa história, convidam à reflexão e fazem muita gente cair na dança, seja sob o ritmo do frevo pernambucano ou do tambor de crioula maranhense. Mas nenhum lugar simboliza tão bem a resistência à escravidão quanto a Serra da Barriga, em Alagoas, onde o Parque Memorial Quilombo dos Palmares – único parque temático voltado à cultura negra no Brasil – mantém vivas as inspiradoras memórias do líder Zumbi, da sua avó (a princesa guerreira Aqualtune, matriarca do quilombo) e dos milhares de pretos que se refugiaram ali durante o período colonial.
Na região Sudeste, uma infinidade de rotas afrocentradas estimulam o turismo em cidades como Ouro Preto (MG), Rio de Janeiro e São Paulo. Na Cidade Maravilhosa, as opções vão desde as tradicionalíssimas rodas de samba na Pedra do Sal, na Pequena África, até o batuque contagiante que ecoa das quadras das agremiações no pré-Carnaval e dos bailes funk em comunidades majoritariamente pretas. Para os amantes da literatura machadiana, a grande novidade é o percurso que refaz os passos do escritor negro pelas ruas cariocas. Já São Paulo tem mais de dez roteiros afroturísticos espalhados pelo Estado, sem falar no impressionante acervo que a capital paulista mantém no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, instalado na área verde mais icônica da cidade: o Parque do Ibirapuera.
Além de valorizar nossa identidade e a cultura afro-brasileira, o afroturismo fomenta a igualdade racial, gerando oportunidades e desenvolvimento econômico às comunidades quilombolas, ao mesmo tempo em que oferece reconexões ao viajante negro estrangeiro e proporciona a todo perfil de turista experiências transformadoras, que transbordam história, arte e ancestralidade Brasil afora.